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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Vivendo Do Ócio - O Pensamento É Um Imã (2012)


Há certas bandas dentro do meio 'roqueiro', mais especificamente o nacional, que por mais que tenham suas qualidades, pecam pela falta de originalidade e também pela pouca maturidade nas letras (afinal, falar de temas adolescentes, salvo exceções, têm o seu prazo de validade). E esse é justamente o caso dos baianos do Vivendo Do Ócio, que chegam ao seu segundo álbum de estúdio, O Pensamento É Um Imã, buscando fugir dos clichês citados no início do texto, ainda que de uma maneira bastante tímida.

As influências são quase as mesmas do debut, com músicas calcadas entre o punk rock clássico e o indie rock da última década. Mas algumas faixas conseguem se diferenciar, mostrando novas e interessantes direções para as canções do quarteto. "Dois Rios" é a música que Marcelo Camelo teria composto se tivesse tentando fazer algo na linha de "Balada Do Amor Inabalável", do Skank (ouça e comprove), e "O Mais Clichê" aposta no regionalismo para convencer o ouvinte, e de certa forma consegue. Infelizmente, o mesmo não se pode dizer da fraca balada "Nostalgia", com a participação do Agridoce (Pitty e Martin) e que soa um tanto forçada.

Entre os rocks, vale citar as boas "O Mundo É Um Parque", com um riff que remete ao Arctic Monkeys de Favourite Worst Nightmare, e "Por Um Punhado De Reais", com sua letra inspirada no filme "Per Un Pugno Di Dollari" (1964), além das regulares "Radioatividade", com sua sonoridade beirando o pop rock, e "Eu Gastei", faixa com duração menor do que dois minutos que encerra o play, que se não são músicas espetaculares, também não comprometem de forma significativa o resultado final.

De resto, o que se têm por aqui são canções pouco inspiradas, onde predomina aquela imaturidade chata que já prejudicava o primeiro álbum (Nem Sempre Tão Normal, de 2009). As fracas "Bomba Relógio" e "Silas", apesar de algumas boas ideias aqui e ali, são extremamente pueris e dispensáveis, do tipo que só devem agradar aos mais neófitos entre os roqueiros. Isso sem falar nas ridículas "Tudo Que Eu Quero" e "Preciso Me Recuperar", que são risíveis de tão manjadas (até os nomes são péssimos). É também nessas que se evidenciam outro grande problema do grupo: os vocais 'meia-boca' do também guitarrista Jajá Cardoso.

O Vivendo Do Ócio é o tipo de banda honesta e com boas intenções. Mas isso no final das contas não vale porcaria nenhuma se as composições não sustentam a imagem do grupo. O Pensamento É Um Imã tem seus bons momentos, claro, mas ainda falta muito para os baianos. Amadurecer é preciso. Não custa nada esperar um pouco também, afinal esse é apenas o segundo álbum de estúdio do grupo, e eles ainda podem melhorar. Mas é bom que eles não demorem, ou do contrário acabarão logo esquecidos como muitos outros.

NOTA: 4,5

Matheus Henrique

Orange Goblin - A Eulogy For The Damned (2012)


Depois de cinco do anos do lançamento do bom Healing Through Fire (2007), o Orange Goblin retorna aos holofotes com seu mais novo álbum chegando as lojas do mundo todo, o há muito aguardado A Eulogy For The Damned. Praticando praticamente o mesmo stoner rock dos discos anteriores, além de influencias latentes do metal tradicional e até mesmo de hard rock em alguns momentos, a banda acerta a mão mais uma vez e mostra que está em um ótimo momento na carreia.

Tecnicamente, todos conseguem convencer perfeitamente, com a cozinha fornada por Martyn Millard (baixo) e Christopher Turner (bateria) se apresentando coesa, dando a sustentação para perfeita para as guitarras de Joe Hoare. Além, é claro, dos já característicos (ao menos para quem já é familiarizado com o grupo) vocais de Ben Ward, que continuam muito bons.

Faixas como "Death Of Aquarius", "Bishop's Wolf" e o single "Red Tide Rising" são da mais alta qualidade, e mostram o poder de fogo do quarteto no seu limite. Também vale citar como destaque as cadenciadas "Acid Trail" e "Stand For Something", que contém os melhores riffs do trabalho, a pegajosa (e ótima) "Save Me From Myself", e a boa "The Filthy And The Few", que com sua estrutura altamente derivada do punk rock, consegue se diferenciar positivamente das demais.

Mas os pontos mais altos do track-list são mesmo as poderosas "The Fog" e "A Eulogy From The Damned", que unem heavy metal, stoner e rock progressivo na medida certa, e transmitem o ouvinte direto para meados da década de 70. Por fim, há também a curta "Return To Mars", que ao contrário das anteriores, que primam pela elevada duração como atrativo (6:46 e 7:17, respectivamente), não precisa de mais de dois minutos para deixar (muito bem) o seu recado.

Em seu sétimo álbum de estúdio, o Orange Goblin não dá margens para decepções, trazendo boas canções em profusão e mostrando estar pronto para crescer ainda mais na carreira. Quem ainda não ouviu esse disco, que periga ser o melhor da discografia dos ingleses, definitivamente não sabe o que está perdendo.

NOTA: 8,5

Matheus Henrique

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

El Caco - Hatred, Love & Diagrams (2012)


Lançado no início do ano pela gravadora Indie Recordings, Hatred, Love & Diagrams é o sexto trabalho de estúdio dos noruegueses do El Caco. A diferença básica desse para os registros anteriores é que agora o grupo começa a ultrapassar os limites de seu país de origem, buscando atingir outros mercados ao redor do mundo com sua música. E a julgar pelo material presente nesse disco, eles não devem demorar muito para alcançarem seus objetivos.

Com guitarras hipnotizantes e poderosas tomando a linha de frente em vários momentos, além de uma combinação perfeita entre o baixo e a bateria em todas as canções, temos um álbum da mais alta qualidade, amparado por um repertório coeso e sem pontos fracos, e além de tudo bem produzido, pois todos os elementos sonoros são aplicados na medida certa, sem exageros que poderiam comprometer o resultado final.

O trio mostra mais uma vez ser uma banda difícil de rotular, com influências que vão desde o hard rock setentista, passando por pós-punk, stoner, prog, e até mesmo o rock alternativo. Semelhanças com nomes como o Tool e o Mastodon podem ser citadas facilmente, mas ao mesmo tempo conseguimos encontrar uma identidade própria dentro do track-list, o que os isenta de qualquer tipo de citações pejorativas.

Escolher destaques entre as dez músicas do disco é algo difícil, pois todas tem suas qualidades próprias e devem ser apreciadas individualmente. Mas não há como ficar imune a abertura sensacional com "After I'm Gone", o ótimo primeiro single "Hatred", que tem tudo para conquistar novos fãs para o grupo, e faixas viajantes e ao mesmo tempo grudentas como "Equivalence", "Confessions" e "She Said", em especial a última, que contém o melhor refrão entre todas as outras.

O El Caco mostra um talento incomum em Hatred, Love & Diagrams, e logo isso deve começar a ser reconhecido pela maioria. Se você ainda não tomou conhecimento dessa ótima banda escandinava, e por consequência desse grande álbum, é melhor corrigir isso logo. Candidato a melhor disco de 2012 facilmente (isso para dizer o mínimo).

NOTA: 9,5

Matheus Henrique

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

In Rock: Hard rock na sua mais pura essência


Por mais que muitos possam até questionar essa afirmação, é fato que o Deep Purple teve muito pouca, pra não dizer nenhuma relevância no final da década de 60. Não que seus três primeiros discos de estúdio (Shades Of Deep Purple, The Book Of Taliesyn e Deep Purple) fossem exatamente ruins, mas não há como negar que em meio a uma época onde vários trabalhos emblemáticos eram lançados massivamente, eles nunca mereceram maiores atenções. Mas esse panorama estava prestes a mudar definitivamente em 1970.

Insatisfeitos com a sonoridade praticada pela banda naquele momento, Ritchie Blackmore (guitarrista) e Jon Lord (tecladista) sabiam que era necessário uma mudança de direcionamento, em especial o primeiro, que queria mais do que nunca trazer mais peso e agressividade as composições, como o Led Zeppelin já vinha fazendo com sucesso naquele mesmo ano (1969). Para isso, dispensaram logo Rod Evans (vocalista) e Nick Simper (baixista), que não eram bons o suficiente para assumir a bronca perante a nova proposta, e ao lado do baterista Ian Paice, saíram a procura de dois novos membros para o grupo.

Depois da tentativa frustada de trazer o jovem promissor Terry Reid para liderar o microfone, que preferiu arriscar na sua carreia solo, o trio encontrou na banda underground Episode Six a pessoa mais do que certa para assumir o posto, e também alguém perfeito em meio as novas pretensões futuras: o ainda desconhecido Ian Gillan, que de quebra trouxe consigo o baixista Roger Glover. Pode-se dizer que eles mataram dois coelhos com uma cajadada só com sobras.

A estreia em disco dessa formação (conhecida como MK II) foi, na verdade, o ao vivo Concerto For Group And Orchestra, que como o próprio nome diz, foi gravado junto a Orquestra Filarmônica de Londres. Mas toda essa experiência era mais um projeto solo de Jon Lord junto dos outros do que algo que todos desejavam e queriam. Apenas em junho de 1970 seria lançado o registro que mostrava tudo que os cinco tinham a oferecer como a banda. E que registro...

In Rock é um álbum clássico em todos os sentidos. Tudo que tornaria o grupo famoso ao redor do mundo dois anos depois, com o platinado Machine Head, já está mais do que presente por aqui. Os 'duelos' inspirados entre a guitarra de Blackmore e o teclado de Lord ditam o ritmo na maior parte do tempo, mas também não há como deixar de mencionar os vocais extraordinários de Gillan, o baixo diferenciado de Glover, e o desempenho magistral do mestre Ian Paice nas peles.

No repertório, o único ponto fraco é o fato do mesmo ser um tanto curto (apenas sete músicas). Mas fica quase impossível levar isso em conta quando nos deparamos com canções do quilate da pesadíssima "Speed King", que abre os trabalhos da maneira mais poderosa possível, além das hard rockers "Bloodsucker" e "Into The Fire", com seus riffs praticamente hipnóticos, a veloz "Flight Of The Rat", a quase 'tranquila' "Living Wreck", e a épica "Child In Time", com seus mais de dez minutos de duração. Mas o maior destaque é sem dúvidas a indescritível "Hard Lovin' Man", uma das melhores faixas de encerramento de todos os tempos disparada.

O resto da história do Deep Purple nos anos seguintes todos já sabem de cor, portanto nem vale gastar linhas para explicá-la. Mas foi em In Rock que tudo isso teve realmente início, nesse que é um dos discos mais influentes dentro do rock desde a década de 70. Dizer que é essencial para qualquer amante de boa música é desnecessário.

01 - Speed King
02 - Bloodsucker
03 - Child In Time
04 - Flight Of The Rat
05 - Into The Fire
06 - Living Wreck
07 - Hard Lovin' Man

Ian Gillan (vocal)
Ritchie Blackmore (guitarra)
Roger Glover (baixo)
Jon Lord (teclado)
Ian Paice (bateria)


Matheus Henrique

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Ape Machine - War To Head (2012)


É complicado dizer logo agora, ainda no começo de 2012, que certo disco já pode ser considerado um dos melhores do ano dentro do mercado musical. Mas ás vezes o trabalho é tão diferenciado, que vale a pena arriscar fazer essa afirmação, por mais errado que isso possa parecer. E esse é justamente o caso do segundo disco do Ape Machine, o fantástico War To Head.

Pra começar, as influências da sonoridade aqui presente são evidentes, e em certos casos até mesmo obvias como o Blue Öyster Cult, o Deep Purple (tanto que o grupo fez uma versão de “Black Night” para o registro), e principalmente o Black Sabbath. Mas se você pensa que isso torna a banda um mero pastiche de qualquer um dos grupos citados, esqueça. O repertório é da mais alta qualidade, e consegue ter uma força própria que vem se tornando cada vez mais rara nos dias de hoje dentro do hard rock.

Qualquer amante de boa música irá se deliciar com pérolas como a faixa de abertura “Hold Your Tongue", a viajante "Can’t Cure Deceit”, onde o vocalista Caleb Heinze chega a lembrar Ozzy Osbourne em certas passagens, e as não menos que ótimas “Death Of The Captain” e “What’s Up Stanley?”. Isso para não falar da espetacular “The Sun”, a melhor do track-list facilmente.

Não é difícil constatar que o Ape Machine já pode ser considerado como um dos maiores nomes do estilo ao redor do mundo, apesar de estarem mais restritos ao underground por enquanto. Mas não será nenhuma surpresa se esse panorama logo mudar. Se você é fã do (bom) rock setentista, esse álbum é totalmente recomendado.

NOTA: 9,5

Matheus Henrique

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Van Halen - A Different Kind Of Truth (2012)


Poucos álbuns foram tão aguardados nos últimos tempos quanto o mais novo lançamento do Van Halen, o primeiro com o vocalista David Lee Roth desde o clássico 1984. E depois de apenas uma simples audição de A Different Kind Of Truth, fica fácil afirmar o que já era esperado (ao menos para quem sabe do poder de fogo do grupo quando se trata de hard rock da melhor qualidade): Um dos grandes registros do ano.

É impressionante como toda a banda está afiadíssima em suas respectivas funções. Falar dos irmãos Eddie (guitarrista) e Alex Van Halen (baterista) é chover no molhado, já que se tratam de duas lendas dos instrumentos em questão. O velho Roth retorna em grande estilo ao microfone, mostrando que a idade avançada felizmente não afetou a sua voz de maneira significativa. E o novato da vez, o baixista Wolfgang Van Halen (filho do guitarrista), não nos deixa em nenhum momento sentir falta de Michael Anthony, agora no Chickenfoot.

O primeiro single do trabalho, e também faixa de abertura do mesmo, a hard-pop "Tattoo", chegou a decepcionar alguns dos fãs mais devotos do quarteto, e de fato não se trata de uma composição que mereça maiores atenções, já que é apenas mediana. Mas não se preocupe quanto ao resto do track-list, pois o que se encontra por aqui é o velho hard rock festeiro e bem feito sempre praticado pela banda.

Destacar algo do repertório é uma tarefa complicada, mas ao mesmo tempo é impossível não citar a fantástica 'She's The Woman", com sua base datada de uma demo perdida de 1976 e que apresenta um suingue de causar inveja a qualquer um, além das roqueiras "Bullethead" e "Outta Space", as pegajosas "You And Your Blues" e "Big River", e as rápidas e cativantes "China Town e "As Is", sendo que em todas o destaque é obviamente o mestre Eddie Van Halen, com riffs e solos que comprovam mais uma vez o porquê desse ser um dos grandes nomes da guitarra de todos os tempos.

A Different Kind Of Truth deveria servir de exemplo para outros grupos veteranos do estilo, pois mostra como qualquer um deve envelhecer da maneira mais digna possível: Praticando praticamente o mesmo som dos tempos áureos, mas sem soar datado ou até mesmo preguiçoso. O Van Halen definitivamente está de volta, e mais poderoso do que nunca.

NOTA: 9

Matheus Henrique

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Lamb Of God - Resolution (2012)


Entre todas as bandas da chamada New Wave Of American Heavy Metal (NWOAHM), que tomou forma no mercado musical na década passada, o Lamb Of God sempre foi o nome de maior destaque. Discos como As The Palaces Burn (2003), Ashes Of The Wake (2004) e Sacrament (2006) obtiveram uma ótima aceitação tanto do público quanto da crítica, e catapultaram o grupo rumo a linha de frente de toda uma nova geração (exageros a parte).

Mas eis que eles começaram 2012 com a árdua missão de se manterem entre os grandes, após vários lançamentos acima da média que assolaram a cena em 2011. Será que Randy Blythe e companhia ainda  poderiam mais uma vez surpreender a todos e registrar algo a altura de seus milhares de concorrentes (se é que podemos chamá-los assim)? Resolution prova que a resposta para essa pergunta só pode ser positiva.

O que encontramos por aqui é um repertório poderoso, onde passagens de brilhantismo pipocam o tempo todo entre as canções. A sonoridade remete a gêneros consagrados como o thrash e o groove metal, como sempre se espera do grupo, mas passa longe de algo datado ou que tenta desesperadamente pertencer ao passado, e individualmente não há destaque individuais. Todos brilham na mesma medida em suas respectivas funções.

Músicas como "Ghost Walking", "Guilty" e "The Number Six" agradam logo na primeira audição, não deixando dúvidas quanto a qualidade diferencial da banda dentro da música pesada moderna. Também vale citar entre as melhores do play a pesadíssima "The Undertow", a grooveada e espetacular "To The End" (sem dúvidas a melhor de todas do track-list), a veloz "Cheated", com uma influência um tanto inesperada, porém decisiva, de hardcore, e as dobradinhas matadoras "Straight For The Sun/Desolation" e "Barbarosa/Invictus".

O fato do álbum ter atingido o terceiro lugar no Top 100 da Bilboard, algo ótimo para um grupo de metal ou qualquer coisa parecida atualmente, mostra que o Lamb Of God ainda atravessa ótimo momento, e que só podemos esperar trabalhos do mesmo nível ou até melhor no futuro. É bom continuarmos de olho neles...

NOTA: 9

Matheus Henrique